No dia 27 de Outubro de 2014, o Director do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa informou o Director da revista Análise Social, João Pina-Cabral, e os membros do conselho redactorial que iria “retirar de circulação” o último número da revista  (AS212). A justificação dada pelo Director do ICS, José Luís Cardoso, foi que o número continha “conteúdo ofensivo que colocava em causa o bom nome e a reputação institucional do ICS”, referindo-se em particular ao ensaio visual da autoria do sociólogo Ricardo Campos. O director cessante da revista e membros do conselho redactorial cessante da revista discordaram veementemente desta decisão, considerando-a um acto de censura.

 

Desde então foi alegado pelo Director do ICS que o ensaio visual de Ricardo Campos tinha sido publicado em desrespeito pelas normas da revista. Não é o caso, como pode ser confirmado consultando as normas. O conselho redactorial tem o direito de editar entrevistas, debates e notas críticas sobre temas de particular relevância para as ciências sociais, não estando estas contribuições sujeitas a avaliação externa. A revista tem vindo a publicar essas contribuições ao longo dos últimos três anos e meio e sem por isso merecer contestação por parte do Instituto. O ensaio visual em questão contém fotografias de grafitti das ruas de Lisboa que reflectem o sentimento de frustração sentido em Portugal em relação às políticas de austeridade vigentes na União Europeia. Estas fotografias são acompanhadas por um texto de autoria de Ricardo Campos em que se elabora uma breve genealogia do grafitti como forma de expressão política. O texto faz uma análise sociológica, não se posicionando a favor ou contra o conteúdo das imagens. Em suma, o último número da revista foi retirado de circulação em manifesto desrespeito pela independência académica da Análise Social, revista cuja reputação estimamos profundamente.

 

Finalmente, mas não menos importante: queremos declarar a nossa solidariedade com o sociólogo Ricardo Campos.